domingo, 19 de setembro de 2010

Hoje

Calor intenso, umidade do ar quase desértica, luto com esta ferramenta moderna de comunicação, sem ter quem me ajude. Mas chego lá, já enfrentei coisas bem mais difíceis e acabei tirando de letra. Quer saber mesmo o que é mais difícil de fazer? Educar os filhos. A gente procura de todas as maneiras acertar, dar o melhor de nós, passar os valores sociais, familiares, fazer deles gente de bem, honesta, trabalhadora (olha o trabalho aí de novo)... porém, ai de nós, vamos ouvir mais tarde acusações de que "a culpa é sua", a cada vez que fracassarem em seus intentos.
Criei e eduquei três filhos homens e minha primeira neta. Sabe o que é começar tudo de novo depois dos 50? Isto, sem falar na educação de centenas de alunos. Não posso dizer "je réussi", nunca podemos afirmar sem pestanejar que conseguimos, que tivemos êxito nesta difícil missão. Mas tentamos, como todas as mães desde mundo, sempre culpadas quando alguma coisa não dá certo. Eles,porém, me amam, tenho certeza. E eu os amo mais que tudo na vida. Já tenho quatro netos (três meninas - pra compensar - e um menino). São adoráveis.
Ultimamente andava sem muito objetivo,  sem quase nenhum trabalho (sempre o trabalho...): algum servicinho doméstico (graças a Deus posso pagar uma ajudante), as caminhadas recomendadas pelo cardiologista, alongamento para maior flexibilidade e diminuir as dores articulares (funciona mesmo!), o leva e traz da neta ao colégio, ao shopping, às festinhas... - daqui a pouco ela já poderá dirigir e não precisará mais de mim -, e as inevitáveis compras pra casa.
E pra mim, o que tenho feito de bom, que traga aquele sentimento de prazer da realização pessoal? Qual foi a última vez que dei uma gargalhada? Gostaria de viajar mais (viajei muito com minha neta enquanto era uma criança), de sair para jantar e curtir um bom papo, acompanhado de vinho idem. Mas, com quem? Ficaram pra trás as amigas, colegas, namorados...
                                                      Jane                                                                                                    

sábado, 18 de setembro de 2010

Antes

Interior de Minas Gerais, primogênita, nascida na fazenda dos avós, que de riqueza só tinham a terra para produzir, poucas cabeças de gado, alguns porcos,  galinhas, patos, ganços, marrecos, alguma caça, o suficiente para subsistir, criar família, multiplicar braços para trabalhar. Aliás, trabalhar, mais que necessidade, era dever. Desde criança até muito velho, enquanto Deus assim o permitisse. Minha mãe e meu pai aprenderam  com seus pais e estes com os deles, não sei por quantas gerações. Papai contava orgulhoso, "com 8 anos eu já pegava na enxada, trabalhava para ajudar a família". E trabalhou até o último dia da sua vida, aos 82 anos. Mamãe não ficava atrás: trabalhava de manhã ao anoitecer, as crianças  ajudavam nas  tarefas domésticas e, no ínicio da adolescência me ensinou a cozinhar, lavar, passar, arrumar e costurar,  já que moça prendada tinha que saber tudo isto, pra não envergonhar o marido e ajudá-lo a economizar. Coitada da minha mãe, economizou tanto e nos fez economizar, até que sobrou pro meu pai sustentar mais uma família. Falei agora mesmo em início da adolescência? No meu tempo não havia adolescência, não se usava esta palavra e seu conceito. De menina e menino, passava-se à moça e rapaz. O destino da primeira era se preparar para casar, ser boa dona de casa e mãe, não trabalhava fora e não precisava estudar muito, no máximo o ginásio e a Escola Normal. Já os rapazes, deviam estudar mais, para ter um trabalho melhor e mais rendoso que o do pai, melhorar de vida, constituir família, poder oferecer a seus filhos mais do que recebeu de seus pais. Ambição dos pobres de ontem. esperança dos pobres de hoje. Antes, não era tão difícil alcançá-la, desde, claro, que se trabalhasse muito e sempre. E hoje?
                                                                                                       Jane