sábado, 29 de janeiro de 2011

Amigos de ontem e de hoje

Uma das minhas características de personalidade, era ter poucos e muito queridos amigos. Em criança (até lá pelos 11 anos), não tinha amigos, só primos e primas e uma tia quase da minha idade, mas nenhuma afinidade. Nos dois primeiros anos que morei em Uberlândia, as colegas de escola não poderiam ser chamadas de amigas. Algumas até me marginalizavam por ser  "caipira" e  desajeitada para os esportes do colégio. De fato, aquela  não era a minha praia. Eu era boa pra subir em árvores (até as grimpas), corajosa pra entrar no brejo proibido (tinha cobras, mas nunca as vi ), para explorar todos os cantos da fazenda do meu avô, para ouvir histórias de assombração...  Na adolescência, comecei a ter amigas: para ser exata, apenas duas, até meu casamento aos 17 anos. Mas essas, eram amigas de verdade, pra quem a gente contava tudo, nossos segredos, ansiedades, desejos. Nós nos conhecíamos mais que nossos próprios pais. Uma delas foi madrinha do meu primeiro filho.
Bom, mulher casada, naquele tempo, não tinha amigas e muito menos amigos. Tomaram o lugar delas as cunhadas, mas com muita reserva e quase nunca confidências. Depois de desquitada, vim pra Goiânia: no pouco tempo que fiquei no curso de enfermagem, fiz novamente uma grande amiga, minha colega de curso. Ela morreu antes de terminá-lo, vítima da Doença de Chagas. Foi uma perda quase tão dolorosa como a de minha irmã. Durante o curso de jornalismo, tive outra grande amiga, amiga até hoje, mas, assim à distância. Quando ela se casou, ainda frequentei muitas vezes a  sua casa. Depois, nossas obrigações familiares e profissionais foram nos afastando.  Na UFG, tinha muitos colegas de quem gostava, tanto funcionários administrativos, como professores.  Poderia, sim, chamá-los de amigos, mas não aquele tipo de amigo pra quem a gente diz tudo. Houve três boas exceções: uma amiga,  alguns anos mais velha do que eu, que me consolava nos momentos difíceis ou tristes, me dava conselhos e carinho. E outra mais jovem, mas que me amava mais do que deveria. Porém, fomos amigas por muito tempo, mesmo depois que ela mudou-se para o Rio, em busca de sua identidade.  Ambas  já faleceram há alguns anos; e também um amigo, graças a Deus ainda presente, mas que anda tão enclausurado ultimamente, que raramente podemos conversar. Do curso de Mestrado, em Brasília, guardei um  bom amigo, quase um irmão, apesar da distância (ele mora em Belém). Nestes mais de vinte anos já nos encontramos várias vezes: aqui, lá e até na Europa, por duas vezes. Também um casal incrível, ele jornalista e ela, daquelas mulheres que estão sempre encorajando, valorizando o marido, filhos e amigos, porém reservando o seu espaço para o sucesso pessoal. São de Florianópolis, onde os reencontrei há cerca de três anos. Ainda uma boa amiga, que veio a ser minha colega na UFG, mas que sumiu depois que se casou pela segunda vez, apesar de termos convivido durante anos. No período que vivi na Bélgica fazendo o Doutorado, fiz apenas duas amigas: uma belga, com a qual me encontro a cada vez que volto la, e uma brasileira, a qual, depois de alguns anos de contato por telefone e duas visitas (depois de voltar, foi morar em Londrina, onde fez carreira como professora universitária),  sumiu de vez. Foram estes, meus grandes amigos de ontem. Falarei dos de hoje, amanhã.
Jane

sábado, 8 de janeiro de 2011

Rua 100, nº 75, Setor Sul - Goiânia

Este foi o primeiro endereço de minha família em Goiânia. Era 1967 e viemos de Uberlândia. Eu vim primeiro, quase um ano antes que meus irmãos, meus filhos e minha mãe. Fiquei no minúsculo apartamento da minha tia-dindinha (que tem um enorme coração), na Rua 20,Centro. Havia me desquitado há um ano e queria recomeçar os estudos. Meu tio me encorajou, como já me havia encorajado a casar aos 17 anos. Vi na TV que se podia fazer o Curso Técnico de Enfermagem equivalendo ao 2º Grau: Escola de Enfermagem São Vicente de Paula, no início junto à Santa Casa de Misericórdia (Rua 4, Centro), depois no Setor Universitário,como um apêndice da UFG (?). Comecei o curso e logo consegui meu primeiro emprego: passar a noite no Prontocor, Av. Paranaíba, para chamar o médico plantonista, por telefone, em caso de necessidade. Quatro jovens cardiologistas se revezavam: Dr. Celmo Porto, Dr. Cassiano de Araújo, Dr. Sizelísio de Lima Filho e Dr Valfrido .... (não me lembro). Ganhava menos de um salário mínimo, mas não atrapalhava meus estudos. Aí,em setembro ou outubro de 1967, veio o resto da família. Papai, que morava em sua fazenda perto de Goiatuba, alugou a casa pra nós e custeou nossas despesas nos primeiros anos, até que pude assumí-las.
Lembrei-me da Rua 100, porque hoje meu filho Flávio acordou-me, ligando da França, para que eu visse uma foto no Facebook de três garotas e um rapaz adolescentes, nossas vizinhas e amigas deles na época. Atrás das lembranças dele, vieram as minhas: o melhor momento vivido naquele emprego e o pior momento vivido naquela casa. No Prontocor, conheci um médico que veio, uma noite, procurar um dos colegas de lá. Este homem foi o grande amor da minha vida, numa relação de quase 30 anos, com alguns intervalos decorrentes de nossas circurnstâncias. Foi tesão, paixão, admiração, amor e muita amizade, até hoje. Ele sempre me apoiou, e encorajou nos momentos mais difíceis. Começando pelo pior momento na casa da Rua 100, quando morreu em acidente de carro minha única irmã, no dia 13 de janeiro de 1968, com apenas 25 anos e solteira. Não vou descrever este momento, horrível para todos nós, quase matando minha mãe de tristeza.
                                                                                                           Jane