domingo, 8 de maio de 2011

Dia das Mães

Hoje é Dia das Mães. Por mais exploração comercial que haja neste dia, não se pode negar que ele desperta nos filhos o desejo inadiável de agradar suas mães. Isto, naturalmente, deveria ser uma atitute diária. Mas não é. A convivência é difícil, os atritos são frequentes, as incompatilidades irreversiveis, as cobranças de doações de uma vida inevitáveis. Graças a Deus existem (poucas) exceções.

O Dia das Mães é também um gerador de culpas. Isto, quando já perdemos a nossa  A minha se foi dois dias depois do Dia das Mães de 1993, dia 13 de maio. Seu último pedido foi dormir na sua casinha humilde, de onde estava afastada há mais de um mês, desde que adoecera. Felizmente lhe deu este presente e ela ficou muito feliz. Uma culpa a menos das muitas que carrego: por não ter sido muito carinhosa, por não ter tido muita paciência, por não ter pensado mais nela que em mim...  Na verdade, foi uma convivência sofrida, também para mim. Senti-me rejeitada desde criança, tendo em vista o carinho que ela dedicava mais a meus irmãos. À minha irmã, por ser uma criaturinha doce, sensível, delicada; ao meu irmão, por ser o único filho homem. Muitas crianças,com um ou mais irmãos, passam por isto. A falta de diálogo entre pais e filhos avolumam os problemas inevitavelmente. Estou quase certa de ter cometido o mesmo erro de minha mãe. Sinto as consequências disto há muito tempo. Porém, tem o Dia das Mães: acabo de ganhar um beijo do meu filho que está por perto e já recebi um telefonema carinhoso de um dos dois que moram fora. Certamente o outro telefonema virá mais tarde. Ainda sonolenta, a neta de quem sou mãe, me deu um abraço apertado.

Afinal, é Dia das Mães. Feliz dia para todas as mães! Elas merecem.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexualidade precoce

Quando a Xuxa estava no auge, final dos anos 70 e toda a década de 80,  li  um  artigo de uma psicóloga que a acusava de estar despertando nas crianças uma sexualidade precoce, ao influenciá-las na maneira de se vestir, de calçar, de dançar.
Depois, começaram a culpar as telenovelas brasileiras, pela carga de sexualidade e  sexo quase explícito, sem falar nos modelos de sedução feminino e masculino que divulgavam. Vieram outros artigos de especialistas, relacionando a menstruação precoce e a gravidez de meninas adolescentes,  à licenciosidade presente nas telenovelas. Pobres crianças dos anos 90, que viram encolher sua infância. SERÁ???
Quando me lembro da minha infância e da  de outras crianças com as quais convivi, acho tudo isto uma baboseira. É verdade que as meninas menstruavam um pouco mais tarde... mas daí a se falar em sexualidade precoce decorrente dos conteúdos televisivos já é demais. E nós crianças nascidas na década de 40, sem rádio, sem televisão, quase sempre sem cinema? O que despertava tão cedo a nossa sexualidade?
No meu caso e das demais crianças da família,  quem nos dava o "mal" exemplo, eram os animais. Nas cidades interioranas, nas fazendas, os cachorros, bois e vacas, cavalos e éguas, galos e galinhas, até insetos, cruzavam na nossa frente sem a menor cerimônia. E nossa sexualidade ia aflorando assim, naturalmente. Começávamos a brincar uns com os outros, sem culpa e sem medo, mas, talvez por instinto, já que minguém falava disto, as brincadeiras eram às escondidas, bem longe dos adultos. E ponha precoce nisto, seis, sete, oito anos e só interrompíamos esta fase gostosa quando os adultos achavam que já era hora de esclarecer as meninas sobre os pecados do sexo, castigo de Deus, e lá vinha a repressão, as ameaças... e o medo nos fazia deixar para trás aquelas "brincadeiras" de criança.
Todo ser humano, da mesma forma que os animais, é sexualmente "precoce". A exploração do próprio corpo começa  mais cedo ainda, é comum a  masturbação, inocente,  sem vergonha nenhuma.  Antes, lá vinha tapa na mão e ameaças. As mães modernas, as mais instruídas, já sabem que a repressão só traz problemas futuros e apenas as ensinam a não fazer "isto" na frente de outras pessoas, que é "feio".
Felizmente as crianças de hoje já podem ver o sexo com a perspectiva de uma coisa boa, prazeirosa. Adolescentes aprendem na escola, na televisão, nos livros e com os próprios pais,  os cuidados para não engravidar prematuramente, para evitar doenças venéreas,  mas não se reprimem e já não aceitam a repressão. É claro que nos referimos a crianças e adolescentes bem nascidos, de pais esclarecidos, de escolas bem orientadas, de boa leitura. Neste país continental, com tanta distância entre níveis de renda, de escolaridade, de saúde, a modernidade não é a mesma para todos os estratos da população. A boa educação não está ao alcance da grande maioria das  nossas crianças, tampouco dos pais que as geraram. Mas a sexualidade, mesmo assim, continua  "precoce", o que é, simplesmente, natural. Triste, são as consequências quando falta orientação saudável, boa educação.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Amigos de Hoje

Depois de aposentar-me, virei mãe de novo. Mãe de uma bebezinha, linda, carinhosa, que tomava todo o meu tempo. Vivi somente pra ela durante cinco anos. Então, voltei a trabalhar por mais oito, porém, continuando a cuidar da minha neta. Naturalmente, as crianças vão crescendo, aprendendo a andar com as próprias perninhas, tornam-se adolescentes e, de repente, já são adultas, namoram, vão pra universidade e, eu, aqui, a ver navios!...

O Grupo AposentadosAdufg, na Chapada dos Veadeiros


Parte do Grupo de novo amigos, em Fortaleza
Que nada, fui à luta, resolvi procurar amigos pra compartilhar o meu tempo, jogar conversa fora, dar risada, fazer juntos coisas que nos dão prazer. Quase que por acaso,  entrei na Associação dos Professores da UFG e me propuz a mobilizar colegas aposentados como eu, para  reatar, estreitar, criar novas amizades. Pessoas que também estivessem precisando de companhia, de ter alguém pra conversar, trocar idéias, se divertir. Não é que deu certo!!!
A cada 15 dias, nos reunimos na sede de nossa associação. para trocar idéias sobre o que gostaríamos de fazer juntos, que nos fizesse bem e nos desse alegria: começamos com uma agradável e bela viagem ecológica à Alto Paraiso e Chapada dos Veadeiros, quando testamos nossas aptidões físicas com sucesso; a cada trinta dias, nos reunimos à noite, geralmente em um bom restaurante, para comemorar os aniversários do mês; em novembro passado, fomos para Fortaleza, onde curtimos praia, boa comida, passeios..., todos alegres, bem dispostos, divertidos. Agora, já estamos mais afoitos: planejamos uma excursão para a Europa (Espanha, Itália e França), em setembro próximo. Pena que nem todos poderão ir, mas espero a adesão da maioria. 
Já somos mais de trinta -  casais, mulheres solteiras ou divorciadas, viuvas. Vamos descobrindo devagar com quem temos mais afinidades, aprendendo a respeitar as diferenças, prontos para nos apoiar nos momentos difíceis e sempre dispostos a criar oportunidades para viver juntos momentos alegres. Estes, são meus amigos de hoje. Como podem observar, depois de passar uma vida tendo poucos amigos de cada vez, agora tenho muitos amigos de uma vez. Estou adorando esta novidade. Porém, não me esqueço dos amigos de ontem, os quais guardo na memória e no coração.
                                               Jane

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Marcella na UFG


Quando eu digo, volto amanhã, não acreditem. Ainda não falei de meus novos amigos, eu sei. Porém, a prioridadedesde agora é outra. Desde ontem, vivo uma grande alegria: a aprovação de minha filha-neta no Vestibular da UFG, para o Curso de Desing de Interiores. Melhor, ela foi aprovada em 5º lugar e, hoje, deparo com uma linda foto sua, no centro da primeira página do Jornal Diário da Manhã, toda pintada, durante a festa dos calouros no Parque Vaca Brava. Muito orgulhosa dela, sensibilizada com os cumprimentos que recebo e  feliz com a sua felicidade. Obrigada, minha querida.
Jane

sábado, 29 de janeiro de 2011

Amigos de ontem e de hoje

Uma das minhas características de personalidade, era ter poucos e muito queridos amigos. Em criança (até lá pelos 11 anos), não tinha amigos, só primos e primas e uma tia quase da minha idade, mas nenhuma afinidade. Nos dois primeiros anos que morei em Uberlândia, as colegas de escola não poderiam ser chamadas de amigas. Algumas até me marginalizavam por ser  "caipira" e  desajeitada para os esportes do colégio. De fato, aquela  não era a minha praia. Eu era boa pra subir em árvores (até as grimpas), corajosa pra entrar no brejo proibido (tinha cobras, mas nunca as vi ), para explorar todos os cantos da fazenda do meu avô, para ouvir histórias de assombração...  Na adolescência, comecei a ter amigas: para ser exata, apenas duas, até meu casamento aos 17 anos. Mas essas, eram amigas de verdade, pra quem a gente contava tudo, nossos segredos, ansiedades, desejos. Nós nos conhecíamos mais que nossos próprios pais. Uma delas foi madrinha do meu primeiro filho.
Bom, mulher casada, naquele tempo, não tinha amigas e muito menos amigos. Tomaram o lugar delas as cunhadas, mas com muita reserva e quase nunca confidências. Depois de desquitada, vim pra Goiânia: no pouco tempo que fiquei no curso de enfermagem, fiz novamente uma grande amiga, minha colega de curso. Ela morreu antes de terminá-lo, vítima da Doença de Chagas. Foi uma perda quase tão dolorosa como a de minha irmã. Durante o curso de jornalismo, tive outra grande amiga, amiga até hoje, mas, assim à distância. Quando ela se casou, ainda frequentei muitas vezes a  sua casa. Depois, nossas obrigações familiares e profissionais foram nos afastando.  Na UFG, tinha muitos colegas de quem gostava, tanto funcionários administrativos, como professores.  Poderia, sim, chamá-los de amigos, mas não aquele tipo de amigo pra quem a gente diz tudo. Houve três boas exceções: uma amiga,  alguns anos mais velha do que eu, que me consolava nos momentos difíceis ou tristes, me dava conselhos e carinho. E outra mais jovem, mas que me amava mais do que deveria. Porém, fomos amigas por muito tempo, mesmo depois que ela mudou-se para o Rio, em busca de sua identidade.  Ambas  já faleceram há alguns anos; e também um amigo, graças a Deus ainda presente, mas que anda tão enclausurado ultimamente, que raramente podemos conversar. Do curso de Mestrado, em Brasília, guardei um  bom amigo, quase um irmão, apesar da distância (ele mora em Belém). Nestes mais de vinte anos já nos encontramos várias vezes: aqui, lá e até na Europa, por duas vezes. Também um casal incrível, ele jornalista e ela, daquelas mulheres que estão sempre encorajando, valorizando o marido, filhos e amigos, porém reservando o seu espaço para o sucesso pessoal. São de Florianópolis, onde os reencontrei há cerca de três anos. Ainda uma boa amiga, que veio a ser minha colega na UFG, mas que sumiu depois que se casou pela segunda vez, apesar de termos convivido durante anos. No período que vivi na Bélgica fazendo o Doutorado, fiz apenas duas amigas: uma belga, com a qual me encontro a cada vez que volto la, e uma brasileira, a qual, depois de alguns anos de contato por telefone e duas visitas (depois de voltar, foi morar em Londrina, onde fez carreira como professora universitária),  sumiu de vez. Foram estes, meus grandes amigos de ontem. Falarei dos de hoje, amanhã.
Jane

sábado, 8 de janeiro de 2011

Rua 100, nº 75, Setor Sul - Goiânia

Este foi o primeiro endereço de minha família em Goiânia. Era 1967 e viemos de Uberlândia. Eu vim primeiro, quase um ano antes que meus irmãos, meus filhos e minha mãe. Fiquei no minúsculo apartamento da minha tia-dindinha (que tem um enorme coração), na Rua 20,Centro. Havia me desquitado há um ano e queria recomeçar os estudos. Meu tio me encorajou, como já me havia encorajado a casar aos 17 anos. Vi na TV que se podia fazer o Curso Técnico de Enfermagem equivalendo ao 2º Grau: Escola de Enfermagem São Vicente de Paula, no início junto à Santa Casa de Misericórdia (Rua 4, Centro), depois no Setor Universitário,como um apêndice da UFG (?). Comecei o curso e logo consegui meu primeiro emprego: passar a noite no Prontocor, Av. Paranaíba, para chamar o médico plantonista, por telefone, em caso de necessidade. Quatro jovens cardiologistas se revezavam: Dr. Celmo Porto, Dr. Cassiano de Araújo, Dr. Sizelísio de Lima Filho e Dr Valfrido .... (não me lembro). Ganhava menos de um salário mínimo, mas não atrapalhava meus estudos. Aí,em setembro ou outubro de 1967, veio o resto da família. Papai, que morava em sua fazenda perto de Goiatuba, alugou a casa pra nós e custeou nossas despesas nos primeiros anos, até que pude assumí-las.
Lembrei-me da Rua 100, porque hoje meu filho Flávio acordou-me, ligando da França, para que eu visse uma foto no Facebook de três garotas e um rapaz adolescentes, nossas vizinhas e amigas deles na época. Atrás das lembranças dele, vieram as minhas: o melhor momento vivido naquele emprego e o pior momento vivido naquela casa. No Prontocor, conheci um médico que veio, uma noite, procurar um dos colegas de lá. Este homem foi o grande amor da minha vida, numa relação de quase 30 anos, com alguns intervalos decorrentes de nossas circurnstâncias. Foi tesão, paixão, admiração, amor e muita amizade, até hoje. Ele sempre me apoiou, e encorajou nos momentos mais difíceis. Começando pelo pior momento na casa da Rua 100, quando morreu em acidente de carro minha única irmã, no dia 13 de janeiro de 1968, com apenas 25 anos e solteira. Não vou descrever este momento, horrível para todos nós, quase matando minha mãe de tristeza.
                                                                                                           Jane