sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexualidade precoce

Quando a Xuxa estava no auge, final dos anos 70 e toda a década de 80,  li  um  artigo de uma psicóloga que a acusava de estar despertando nas crianças uma sexualidade precoce, ao influenciá-las na maneira de se vestir, de calçar, de dançar.
Depois, começaram a culpar as telenovelas brasileiras, pela carga de sexualidade e  sexo quase explícito, sem falar nos modelos de sedução feminino e masculino que divulgavam. Vieram outros artigos de especialistas, relacionando a menstruação precoce e a gravidez de meninas adolescentes,  à licenciosidade presente nas telenovelas. Pobres crianças dos anos 90, que viram encolher sua infância. SERÁ???
Quando me lembro da minha infância e da  de outras crianças com as quais convivi, acho tudo isto uma baboseira. É verdade que as meninas menstruavam um pouco mais tarde... mas daí a se falar em sexualidade precoce decorrente dos conteúdos televisivos já é demais. E nós crianças nascidas na década de 40, sem rádio, sem televisão, quase sempre sem cinema? O que despertava tão cedo a nossa sexualidade?
No meu caso e das demais crianças da família,  quem nos dava o "mal" exemplo, eram os animais. Nas cidades interioranas, nas fazendas, os cachorros, bois e vacas, cavalos e éguas, galos e galinhas, até insetos, cruzavam na nossa frente sem a menor cerimônia. E nossa sexualidade ia aflorando assim, naturalmente. Começávamos a brincar uns com os outros, sem culpa e sem medo, mas, talvez por instinto, já que minguém falava disto, as brincadeiras eram às escondidas, bem longe dos adultos. E ponha precoce nisto, seis, sete, oito anos e só interrompíamos esta fase gostosa quando os adultos achavam que já era hora de esclarecer as meninas sobre os pecados do sexo, castigo de Deus, e lá vinha a repressão, as ameaças... e o medo nos fazia deixar para trás aquelas "brincadeiras" de criança.
Todo ser humano, da mesma forma que os animais, é sexualmente "precoce". A exploração do próprio corpo começa  mais cedo ainda, é comum a  masturbação, inocente,  sem vergonha nenhuma.  Antes, lá vinha tapa na mão e ameaças. As mães modernas, as mais instruídas, já sabem que a repressão só traz problemas futuros e apenas as ensinam a não fazer "isto" na frente de outras pessoas, que é "feio".
Felizmente as crianças de hoje já podem ver o sexo com a perspectiva de uma coisa boa, prazeirosa. Adolescentes aprendem na escola, na televisão, nos livros e com os próprios pais,  os cuidados para não engravidar prematuramente, para evitar doenças venéreas,  mas não se reprimem e já não aceitam a repressão. É claro que nos referimos a crianças e adolescentes bem nascidos, de pais esclarecidos, de escolas bem orientadas, de boa leitura. Neste país continental, com tanta distância entre níveis de renda, de escolaridade, de saúde, a modernidade não é a mesma para todos os estratos da população. A boa educação não está ao alcance da grande maioria das  nossas crianças, tampouco dos pais que as geraram. Mas a sexualidade, mesmo assim, continua  "precoce", o que é, simplesmente, natural. Triste, são as consequências quando falta orientação saudável, boa educação.

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