sábado, 18 de setembro de 2010

Antes

Interior de Minas Gerais, primogênita, nascida na fazenda dos avós, que de riqueza só tinham a terra para produzir, poucas cabeças de gado, alguns porcos,  galinhas, patos, ganços, marrecos, alguma caça, o suficiente para subsistir, criar família, multiplicar braços para trabalhar. Aliás, trabalhar, mais que necessidade, era dever. Desde criança até muito velho, enquanto Deus assim o permitisse. Minha mãe e meu pai aprenderam  com seus pais e estes com os deles, não sei por quantas gerações. Papai contava orgulhoso, "com 8 anos eu já pegava na enxada, trabalhava para ajudar a família". E trabalhou até o último dia da sua vida, aos 82 anos. Mamãe não ficava atrás: trabalhava de manhã ao anoitecer, as crianças  ajudavam nas  tarefas domésticas e, no ínicio da adolescência me ensinou a cozinhar, lavar, passar, arrumar e costurar,  já que moça prendada tinha que saber tudo isto, pra não envergonhar o marido e ajudá-lo a economizar. Coitada da minha mãe, economizou tanto e nos fez economizar, até que sobrou pro meu pai sustentar mais uma família. Falei agora mesmo em início da adolescência? No meu tempo não havia adolescência, não se usava esta palavra e seu conceito. De menina e menino, passava-se à moça e rapaz. O destino da primeira era se preparar para casar, ser boa dona de casa e mãe, não trabalhava fora e não precisava estudar muito, no máximo o ginásio e a Escola Normal. Já os rapazes, deviam estudar mais, para ter um trabalho melhor e mais rendoso que o do pai, melhorar de vida, constituir família, poder oferecer a seus filhos mais do que recebeu de seus pais. Ambição dos pobres de ontem. esperança dos pobres de hoje. Antes, não era tão difícil alcançá-la, desde, claro, que se trabalhasse muito e sempre. E hoje?
                                                                                                       Jane

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